Quero ser constante e não perfeito: esse é meu desejo na semana. Desejo ainda mais que essa chama se estenda à vida toda. Quero ser constante a vida toda e não somente naquela semana do gás inicial inerente aos projetos megalomaníacos. “Mudam-se os tempos, mudam-se as vontades”, acrescentava no século XVI, Camões, à nossa temática. “Todo o mundo é composto de mudança, tomando sempre novas qualidades”, assim finalizava a primeira quadra do soneto “mudam-se os tempos, mudam-se as vontades”. Ou seja, mudança é inevitável - concordo com o mestre português. Só é preciso aprender a não deixar essas mudanças nos abalarem.
Eu, por exemplo, quero ser constante, mas encontro dificuldades em me adaptar as mudanças que o tempo impõe na vida. Se algo muda na minha rotina, já parece uma grande ameaça no meu auto gerenciamento de carreira pessoal. Contra a minha melhor versão observo a seguir alguns inimigos que encontro para realizar alguns bons objetivos.
O perfeccionismo é quase sempre inimigo da constância. A única constância que há na possibilidade de perfeição humana é o fato de que a perfeição não é constante. Michael Jordan fez história na NBA, alcançando campanhas consideradas como perfeitas, ampliando a visibilidade do esporte ao mundo todo. Todos viram ou ouviram falar do que aquele esportista fez. Parecia impossível, soava perfeito, e teve fim, como tudo também tem. Mas nem sempre foi assim. Antes das grades vitórias, Jordan teve um caminho até criar a marcante dinastia com o Chicago Bulls.
Perdeu muitas partidas, sofreu com lesões, mas acima de tudo – não desistiu. As adversidades quase o pararam, como param a maioria dos sonhos alheios. Acredito veementemente que deixo as adversidades me pararem o tempo todo e param, também, um monte de gente. E com esse modo de pensar, pode-se até dizer que as pessoas que se destacam são apenas pessoas que não foram vencidas pela cadeia alimentar dos obstáculos. E eu sou vencido por diferentes deles.
Deixo de ir pra academia pois perdi o horário da manhã – melhor horário pra treinar, de longe. Deixo de escrever meu texto pois cheguei tarde em casa e só quero descansar na minha cama, deixo de assistir as aulas dos vários cursos que compro pois estou cansado mentalmente para me concentrar. Enfim, a todo momento; superado pelas adversidades. Eu poderia ser o Michael Jordan do Rio Grande do Norte? Não. Não mais. O tempo pra esse feito já passou. Fui sedentário durante a infância, não cresci o suficiente, não me deram GH, e conheci o esporte de maneira tardia – e nem sou bom jogando basquete. Mas gostamos de pensar que conseguiríamos, qual Peter Parker, no momento certo, no laboratório certo, com a aranha certa.
Infelizmente papai noel não existe e eu nunca serei o Homem aranha, mas posso ser melhor que ontem. Essa é a auto ajuda que tenta ajudar nossa sociedade. Verdade agridoce. Eu na verdade gostaria de subir na escada do desafio e conseguir o que quero desde que seja constante, como em fases de videogame, e talvez pensar assim dê certo.
Em 2019 eu fiz isso pra emagrecer. Perdi cerca de 47kg em cinco meses. Era constância pura na academia, incansavelmente. Deixei de ir nos rolês que me chamavam, vivia dizendo não pra todos, em todo lugar e a todo momento, comia muito menos do que meu corpo pedia, ouvia “Lose Yourself” do Eminem, na esteira, como quem faz uma oração antes da batalha derradeira e...
Fiquei com distorção corporal, mesmo super magro, ainda me sentia gordo. Ficava ansioso e tinha compulsões alimentares. Se engordava um pouquinho, já ficava triste.
No início de 2019 eu pesava em torno de 110kg, na foto debaixo eu estava com uns 64kg.
Botar na cabeça que era só seguir em frente, mesmo que eu estivesse lascado, fez eu emagrecer, mas não necessariamente me fez saudável. De lá pra cá, botei na cabeça que era um ex atleta de basquete – que nunca foi atleta de verdade e tinha apenas 18 anos - destinado a puxar peso na academia freneticamente.
Lesionei meu bíceps, hoje tenho todas as articulações lascadas e minha missão de vida pra amenizar isso é fazer exercícios de alongamento diariamente. Coisa que não faço diariamente; e pra ser honesto, nem faço.
Ou seja, ser constante é bom, ser constante ajuda, mas acho que é preciso ser constante de maneira sã. Alinhar a constância com as expectativas.
Trago Camões novamente, agora por mim parodiado: “enfim, tudo que a rara natureza, com tanta variedade nos oferece, me está, se não vejo os resultados, magoando. Sem eles, tudo me enoja e me aborrece. Sem eles, perpetuamente estou passando, nas maiores alegrias maior tristeza”. Penso no sumo poeta da nossa língua pois foi homem constante, genioso até demais, brilhante em inovação, mas morreu pobre, sem nenhum tostão. Quantos dele existem atualmente? Será que somos como ele? No fundo, eu só queria ver o diacho dos resultados e com eles achar algum contentamento.
Mas o que me falta é adaptação, “mindset”, resistência pra superar qualquer pedrinha que me faz topar no meio do caminho, como o desânimo. Começo projetos e os perco de vista na mesma frequência que tomo café da manhã. Assim não dá. Em parte, procrastino muito pois fico no aguardo do cenário ideal e já que ele nunca vem, acabo não persistindo muito. Sou o famoso “oito ou oitenta”. Ou eu serei o melhor de todos, o lendário sonhador da abertura de Digimon, ou eu não serei muita coisa.
Consegui emagrecer, meta que tentei bastante antes de 2019, mas qual foi o custo? Além das vitamina B-12, claro. Hoje tento replicar o meu “sucesso”, com a mente que busca um cenário ideal, mas ao mesmo tempo, chegando a conclusão que esse cenário ideal nunca chega e as danadas das reviravoltas na trama da vida sempre espreitam o nosso “storytelling”.
Por isso, escrevo esse texto com o pensamento de que minha perfeição inalcançável e nada constante mais me imobiliza do que agiliza meus empreendimentos. Também o escrevo com a ideia de que se eu não escrever sempre, nunca serei grande escritor. E aqui tomo meu conceito de grandeza: ser capaz de realizar aproximadamente o que eu idealizava. Escrever é expressar a realidade, e quanto melhor o escritor, melhor será a expressão ao seu melhor modo de dizer as coisas. Quero isso. Quero dizer o que quero dizer da melhor maneira que posso dizer. Estou longe, mas quero.
Além disso, quero estudar Copywriting e Inglês. São minhas metas maiores pra esse ano de 2024 e talvez pro próximo. Comprei dois cursos, um de Inglês e o de Copy do meu querido Rafael professor Censon. Comecei eles mas não sai da aula 2. É urgente criar vergonha na cara em nome dos meus sonhos, mesmo não querendo ser um Michael Jordan - ou quem sabe eu queira.
Uma questão que me vêm à tona, nesses últimos tempos, é a de honrar os talentos que me foram dados. A parábola dos talentos, da Bíblia. Fazer jus aos talentos que temos, sejam eles quais forem, me soa como a coisa mais honrada e sincera que podemos fazer na falta de uma vocação ideal, e talvez o meu caminho esteja por aí mesmo.
Não tenho uma profissão dos sonhos. Quando criança, queria ser genuinamente super-herói. Depois, desiludido, comecei a pensar que queria algo como policial por ser o mais próximo do conceito de combater o mal e salvar as pessoas, disso foi pra todos os cursos que existem nas grades curriculares e com o tempo, nem sei se gosto mais da ideia de salvar as pessoas.
O tempo foi passando e eu percebi que quem deveria ser salvo mesmo era eu. Salvo das desistências, das derrotas admitidas e das ansiosas pretensões de perfeição que culminam em tudo ou nada. Preciso me salvar de conceitos tortos; de achar que tenho pouco tempo e não fazer nada, ou que tenho muito tempo, relaxar, e não fazer nada; de me ver como um incapaz por não seguir à risca a maioria dos planos que me proponho.
Acima de tudo, não me deixar levar pelas mudanças do tempo. Ser forte ao cair e levantar em seguida. Não envelhecer mal, nem buscar a juventude envelhecido. Ir com calma, tentando dançar a música que toca no espaço, apreciando a jornada que têm fim, mas que eu não espere esse fim passivamente sem fazer nada.
E acho que todos precisamos nos salvar desses discursos, da toxicidade do meio virtual – da ansiedade que é viver nessa internet, mar da falsa perfeição. Quero, genuinamente, apenas fazer valer os meus talentos. Constante, sem parar.